Descrição
Ao escrever ‘Os que vieram antes de nós’, notei, com certo espanto, que a história se repete. Ou seja, ela não é tão nova assim.
A história retoma o tempo de nossos antepassados e volta a nós, por meio da morte e da memória. Meus textos mostram a confusão aflita de nossas vidas: o desejo de fazer a qualquer preço, a luta pela dignidade e as tentativas por caminhos diversos. Também falam sobre o costumeiro ‘deixar de lado’ e ‘deixar para depois’ coisas que, aparentemente, só são importantes para nós.
Sem dúvida, é uma indagação sobre o que fazer com sentimentos escondidos e qual sentido lhes atribuir. Trata das dificuldades do dia a dia de qualquer um, engajado na construção do ser, do existir, e não apenas do sobreviver. Os textos de meu pai, escritos há mais de quarenta anos, se entremeiam aos meus. Isso acontece de maneira nem sempre explícita, mas sempre presente nas entrelinhas.
Meu Pai
Por que meu pai? Porque seu pensamento mostra as diversas fases da vida de um homem. Podemos chamar isso de transformação do ser e das formas de ver a vida, embora a leitura seja minha.
Trago aqui a linhagem de nossa família. Ela é conhecida pela memória de meu pai e, hoje, desconhecida, perdida no Velho Mundo.
São histórias de um povo que viveu guerras, morreu em campos de concentração, mas isso não é seu maior feito. Muito pelo contrário: salvaram gente, ampararam, erraram, arriscaram. Cruzaram mares, fugiram, sobreviveram e, sobretudo, viveram intensamente.
Acredito, com certo conhecimento de causa, que meu pai queria atribuir à obra uma certa nostalgia romântica. Ele acreditava que sua vida era melodramática.
Mas ficou claro para mim que houve uma transformação pessoal nesse ser tão amado. Ele não concluiu sua obra, talvez por ter compreendido sua mudança, consequência de sua transformação na forma de ler a própria história.
A autora
Vivo anonimamente em uma cidade gigantesca. Nela, os milhões de sentidos se perdem a cada instante e a cada segundo. Não sei se sou privilegiada, uma dessas pessoas que, insistente e diariamente, tenta consagrar a harmonia em seu templo pessoal.
Mas sei que minha percepção muda a cada dia. Assim, vou me transformando em alguém mais próximo do que se convencionou chamar de humano. Nesse processo, me harmonizo.
Assim como eu, muitas outras pessoas precisam desse olhar humano. Elas necessitam desse processo de autoconhecimento, à medida que se percebem no outro e para o outro.
Este livro deseja prestar uma homenagem a todas as tentativas corajosas, heroicas ou não, de entender-se e entender o mundo. De crescer e amadurecer por meio da observação.
Também reafirma nosso compromisso com nossos ancestrais, diretos ou não, que, sem dúvida, fazem parte de nossas vidas. É uma tentativa de honrar os sonhos de quem deixou seu país em busca de algo simples chamado felicidade.
Guardar memórias e contar histórias sempre fez parte da vida de Annemarie Heltai. Paulistana, ela viveu em um bairro afastado no ABC paulista. Na infância, via o pai dedicar-se aos quadros, enquanto a mãe trabalhava com artes manuais e culinária. Anne sempre gostou de escrever, mas só quando participou da Oficina Literária do Museu Lasar Segall propôs-se a dar continuidade a um trabalho que refletisse a seriedade e o amor com que trata a escrita. Como professora, acredita na transformação do ser humano. Como amante das artes, vê na literatura um poderoso instrumento. Para ela, a literatura serve não apenas para a transformação, mas para a libertação de quem se permite “escrever a própria história”.
A autora
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